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A Felicidade Autotélica

A dinâmica da felicidade, José Aparecido da Silva, em Revista Psique, No 22, ano II, Nov 2007
 
A experiência autotélica

(...) uma das noções recentemente introduzida para explicar a felicidade é aquela denominada experiência autotélica ou de personalidade autotélica.

O conceito descreve um tipo particular de experiência que é tão absorvente e prezaera que ela se torna autotélica, isto é, valorosa por fazer algo para o seu próprio bem, mesmo que não tenha qualuqer consequência externa.

Atividades criativas, música, esportes, jogos e rituais religiosos são alguns exemplos típicos deste tipo de experiência. Pessoas autotélicas são aquelas que tem com frequencia tais tipos de experiência, independente do que elas estejam fazendo.

Muitos estudos tem sugerido que a felicidade depende de uma pessoa ser capaz de derivar experiências autotélicas a partir de qualquer coisa que ela faz. Em adição, os dados tem mostrado que este tipo de experiência não é limitada a empenhos criativos.

Ela também pode ser encontrada nos adolescentes que adoram estudar, nos trabalhadores que apreciam os seus trabalhos e nos motoristas que adoram dirigir. Esse tipo de experiências tem algumas características comuns.

Primeiro, as pessoas reportam que conhecem muito claramente o que elas tem de fazer, passo a passo, em parte porque elas conhecem o que cada atividade exige e, em parte, porque elas estabelecem com clareza os objetivos de cada passo ou atividade.

Segundo, as pessoas podem obter feedback imediato sobre o que estão fazendo. Novamente, pode ser porque as atividades fornecem informações sobre o desempenho ou porque as pessoas tem um padrão interno que torna possível conhecer se as ações realizadas alcançaram aquele padrão internalizado.

Finalmente, uma personalidade autotélica sente que suas habilidades para agir se emparelham às oportunidades para a ação. Se o desafio é muito maior para as habilidades de uma pessoa, provavelmente ela sentirá ansiedade ou angústia; se as habilidades são maiores que os desafios, a pessoa se sentirá entediada.

Quando, porém, os desafios estão em perfeito equilíbrio com as habilidades, a pessoa se sentirá envolvida e encantada com a atividade e uma experiência autotélica resultará.

Em resumo, as pessoas autotélicas tendem a registrar mais frequentemente estados emocionais positivos, sentem que sua vida é mais significativa e tem mais objetivos.

Esse conceito de experiência autotélica nos ajuda a explicar as causas contraditórias, e algumas vezes conflitantes, do que nós usualmente denominamos de felicidade. Ele explicar porque é possível alcançar estados de bem-estar subjetivos por meio de diferentes caminhos: as pessoas são felizes não por causa do "que" elas fazem, mas por causa do "como" elas fazem.

Devemos ter prazer num dado estado mental para nos beneficiarmos dele. Em outras palavras, a felicidade é a habilidade de estar completamente envolvido com a vida. Se as condições materiais são abundantes, tanto melhor, mas a falta de riqueza, ou de saúde, não pode impedir uma pessoa de ter experiências autotélicas, quaisquer que sejam as circunstâncias que ela tenha em mãos.

É necessário também encontrar satisfação na realização de atividades que são complexas e que fornecem um potencial para o crescimento durante toda a vida e que, também, permitam a emergência de novas oportunidades para a ação e a estimulação de novas habilidades.

Quando experiências positivas derivam-se de atividades físicas, mentais ou de envolvimentos emocionais plenos oriundos do trabalho, dos esportes, dos hobbies, da meditação e das relações interpessoais, então as chances para uma vida complexa que leva à felicidade certamente aumentam.

Devemos finalmente lembrar, tal como John Locke alertou, que as pessoas não devem confundir felicidade imaginária com a felicidade real, e enfatizar, tal como Platão fez há 25 séculos, que a tarefa mais urgente de nossos educadores é ensinar os nossos jovens a encontrar prazer nas coisas certas. Felicidade é a harmonia entre o pensar, o dizer e o fazer.
 

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