Fonte (-)Menor  (+)Maior Versão para
Impressão
 
 
Expectativas exageradas no casamento

O poder da amizade, Tom Rath, 2006, Editora Sextante, pag 34
 
Nos primeiros meses de casamento, Judy achou que sua relação com Tim estava no caminho certo. Os dois tinham bons empregos, uma bela casa em Chicago e a certeza de que a união duraria para sempre. Os amigos viam como "o casal perfeito" e eles pretendiam fazer jus a essa expectativa.

Porém, perto do segundo aniversário de casamento, Judy começou a ter sérias dúvidas se o relacionamento dos dois tinha futuro. Tentou descobrir onde estava o problema, mas sem sucesso. Tim ainda era o mesmo cara atencioso e bonito que ela conhecera quatro anos antes. Amava-o intensamente. E ele não andava fazendo nada de errado. Estava sempre por perto, ajudava nas tarefas domésticas e era excepcionalmente confiável.

Então por que Judy se sentia frustrada com ele nos últimos tempos? Durante o jantar, Tim sempre escutva com atenção o que ela dizia sobre o trabalho. A questão era que, quando ela pedia idéais para um projeto em que estava envolvida ou uma opinião sobre a melhor maneira de lidar com alguém que vinha lhe causando problemas, ele não tinha muito a oferecer. Quando falava sobre voltar a estudar e fazer uma pós-graduaçao, ele dava apoio, mas não necessariamete a encorajava a enfrentar o novo desafio.

Durante muito refletir sobre sua relação, Judy percebeu qual era o problema. Durante toda a vida ela dependera do empurrão de outras pessoas. Antes era o pai que a incentivava e nos tempos da faculdade sua melhor amiga, Lynn, assumiu esse papel. Com o casamento, Judy deixou de passar tanto tempo com o pai ou com Lynn, e esperava que Tim preechesse aquele vácuo.

O que há de errado com ele?, ressentia-se. Ela sempre estimulava o marido a pensar grande. Na verdade, Judy tinha dado a maior força para ele fazer um treinamento que impulsionaria sua carreira. E, depois de passar, Tim lhe disse que seu apoio havia sido fundamental. Será que ele não tinha a obrigação de incentivá-la também?

Com essa pergunta fresca na cabeça, Judy pensou ter achado a solução para colocar o casamento nos eixos. Bastava conversar com Tim e ajudá-lo a entender o que devia fazer para satisfazer as necessidades dela. Na noite seguinte, quando os dois estavam sentados no sofá bebendo vinho, Judy tocou no assunto. Sem ser agressiva ou acusatória, ela explicou o que estava acontecendo e disse que precisava de mais conselhos e "empurrõezinhos". A princípio Tim ficou um pouco na defensiva, mas então baixou a guarda e resolveu tentar.

Nos meses seguintes, ele fez várias tentativas consicentes de incentivar e impor desafios a sua mulher. No começo parecia que seu esforço ia dar resultado. Judy sabia que o marido estava fazendo o máximo que podia. Porém, depois de um tempo, percebeu que o melhor conselho de Tim equivalia ao pior que sua amiga Lynn podia oferecer.

Por mais que tentasse, aquilo não era da sua natureza. Tim era o tipo de pessoa que precisava de um personal trainer para obrigá-lo a aparecer na academia. Na cabeça de Judy, as coisas estavam tomando um rumo desalentador. Embora não tivesse falado isso para Tim ou para qualquer pessoa, ela vinha se questionando se seu casamento não estava realmente fadado ao fracasso.

O MITO DA PERFEIÇÃO

Problemas assim acontecem o tempo todo em casamentos e em amizadas íntimas. Esperamos que a outra pessoa satisfaça todas as nossas necessidades - que nos impulsione para o sucesso; ouça incondicionalmente; ofereça ajuda em todos os momentos; e, ao mesmo tempo, seja superdivertida. Eu também já fiz isso. Fosse com um bom amigo, com alguém com que eu estivesse saindo ou com um colega de trabalho, sempre esperava que aquela pessoa fizesse um milhão de coisas para sustentar o lado dela no relacionamento. Mas isso não acontecia, e eu acabava me decepcionando. (...)

UMA PESSOA NÃO PODE FAZER TUDO

Depois de muito sofrimento, Judy entendeu que não podia contar com Tim para encorajá-la, pois isso não era da natureza dele. O melhor a fazer era buscar o apoio de outras pessoas nessa área, como a velha amiga Lynn, que sabia como ninguém estimulá-la a correr atrás das coisas. Judy também se deu conta de que tinha um colega de escritório que era um grande incentivador do seu trabalho, mas ela nunca dedicara muito tempo a essa amizade. Precisava fazer isso.

Assim que Judy parou de exigir que Tim fosse completo, perfeito em tudo, seu casamento começou a voltar nos eixos. Ela passou a ver o marido sob outra perspectiva e a apreciar ainda mais suas qualidades. Tim a conhecia muito bem e adivinhada o que Judy queria antes mesmo de ela pedir. Nunca uma pessoa teve aquele tipo de sintonia com as suas emoções, e isso significava muito para ela. Tim sempre conseguia tornar o ambiente mais leve e divertido. Ele possuia um incrível talento para levantar o astral dos amigos quando eles precisavam.

Um ano depois da crise, Judy mal podia acreditar que pensara em largar o marido. Ele era, e sempre tinha sido, o homem certo para ela. Tim dava grandes contribuições para o casamento: amor, confiança incondicional, humor e muito mais. Judy se sentiu uma tola por ficar presa às poucas coisas que ele NÃO trazia para o relacionamento. Pensando em retrospecto, tudo parecia tão obvio e simples. (...)

Judy descobriu a chave para qualquer grande amizade: concentrar-se no que cada amigo DE FATO contribui para a sua vida.

 

Versão para
Impressão