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Nossa capacidade de prestar atenção

Inteligência Social, Daniel Goleman, 2006, Editora Campus, pag 58
 
Certa tarde, no Princeton Theological Seminary, quarenta estudantes esperavam para dar um sermão pelo qual seriam avaliados. A metade escolheu tópicos bíblicos aleatórios. A outra metade optou pela parábola do Bom Samaritano, que parou para ajudar um estranho na estrada, um homem machucado que fora ignorado por pessoas supostamente mais "piedosas".

Os seminaristas trabalharam juntos em uma sala e, a cada 15 minutos, um deles saía e se dirigia a outra sala, onde daria o sermão. Nenhum deles sabia que estava participando de um experimento sobre altruísmo.

No caminho, passavam diante de uma porta em que havia um homem caido, gemendo de dor. Dos quarenta estudantes, 24 passaram direto, ignorando os gemidos do homem. E os que deveriam dar um sermão sobre a parábola do Bom Samaritano não se preocuparam mais em parar e ajudar do que os do outro grupo.

Para os seminaristas, o tempo era mais importante. Entre dez que acreditavam estar atrasados para o sermão, só um parou: entre outros dez que acreditavam ter tempo de sobra, seis ofereceram ajuda.

Dos muitos fatores que estão em jogo no altruísmo, um dos mais importantes parece consistir simplesmente em dedicar um pouco de tempo a prestar atenção: nossa empatia é mais forte quando nos concentramos totalmente em alguém e nos envolvemos emocionalmente.

(...) Aparentemente, os seminaristas que passavam apressados a caminho da sala onde dariam sermão não estavam dispostos ou não podiam dispensar atenção ao homem caído porque estavam presos aos próximos pensamentos e à pressa.

As pessoas nas ruas movimentadas das cidades têm menos probabilidade de notar, cumprimentar ou oferecer ajuda a alguém em razão do que vem sendo conhecido como "TRANSE URBANO". Alguns sociológos afiram que tendemos entrar nesse estado de auto-absorção nas ruas apinhadas das grandes cidades como forma de nos proteger da sobrecarga de estímulos à nossa volta.

(...) Além disso, as barreiras sociais nos cegam. Um mendigo que pede esmola na rua de uma grande cidade pode não receber atenção de um transeunte que, por sua vez, alguns passos adiante, pode muito bem responder à solicitação de uma jovem bem-vestida que recolhe assinaturas para um abaixo-assinado com motivação política.

Em suma, nossas prioridades, grau de socialização e inúmeros outros fatores sociais e psicológicos podem levar-nos a direcionar ou inibir a atenção ou as emoções que sentimos - e, assim, nossa empatia. O simples fato de prestarmos atenção permite-nos desenvolver uma conexão emocional. Sem atenção, a empatia não tem vez.
 

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