Como desenvolver a saúde emocional
 
Como desenvolver a saúde emocional, Oliver James, 2014, Objetiva
 

Saúde emocional é a noção de que a vida está acontecendo aqui e agora. É vivenciar o mundo pessoal e imediatamente, em vez de apenas saber o que foi vivido ao refletir a respeito mais tarde. Quando a pessoa tem saúde emocional, ela se sente real e não falsa. Ela se sente confortável sendo quem é: não deseja ser outra pessoa nem olha com desprezo para as demais por não serem como ela. A pessoa sabe o que está pensando e sentindo, mesmo que às vezes isso signifique apenas reconhecer que não sabe.

Ela tem um consistente código ético próprio, que lhe permite distinguir o certo do errado. É estoica diante das adversidades, realista quanto às próprias ideias e com frequência parece sábia em seus julgamentos. Tem a capacidade de perceber suas próprias ações. Às vezes, consegue identificar antecipadamente quando está prestes a cometer um erro e o evita, ou percebe quando está reagindo de maneira irracional a uma situação e corrige a si mesma - depois de bater o carro, não o faz novamente. Percebe que o sinal ficou vermelho ou que há um muro se aproximando e vira a direção. Isso lhe dá o néctar da alma, a capacidade de escolha e, portanto, de mudar. Essa autoconsciência é o que nos diferencia dos outros animais.

Nas relações diárias com os outros, a pessoa com saúde emocional sabe avaliar o que estão sentindo e pensando. Consegue viver no lugar em que o eu e os outros se encontram, sem tirania. Não fica nem "travada na transmissão" nem "travada na recepção". Vive sem sufocar ou dominar outras pessoas, e não é sufocada ou dominada.

É adaptável, mas sem perder a si mesma. Quando essa pessoa se vê em situações sociais ou profissionais que exijam alguma medida de fingimento, consegue vestir uma máscara para a ocasião sem perder o senso de autenticidade. Seu eu real é o mais próximo possível do que apresenta aos outros, dependendo do que seja factível. Pois se for necessário mentir, mente.

A vivacidade da pessoa emocionalmente saudável é extraordinária. Consegue levar alegria a qualquer situação, mas não é algo frenético e não parece algo apenas para "manter-se ocupado", para se distrair de maus sentimentos. Ela é espontânea e está sempre em busca da forma mais divertida de lidar com as coisas, mantendo um brilho característico da infância, uma convicção de que a vida é para ser aproveitada e não suportada. Não é afetada por joguinhos de carência, imaturos e egoístas de manipulação.

De tempos em tempos, pode sofrer com depressões, raivas, fobias e todas as outras formas de problemas. Comete erros. Mas, por causa da saúde emocional, consegue viver no presente e encontrar o valor da própria existência, não importando o que esteja acontecendo, e isso a torna resiliente. Quando as pessoas entram em contato com ela, costumam se sentir mais capazes, mais alegres e animadas. Seu bem-estar passa para os outros. A pessoa emocionalmente saudável não é um mártir, mas é vista como importante contribuinte dos círculos social e profissional de que faz parte.

Você já conheceu alguém assim? Não? Eu também não. Mas é a isso que me refiro quando falo em saúde emocional. Nenhum de nós é emocionalmente saudável o tempo todo, de todas essas formas. A maioria de nós atinge essa saúde emocional em apenas alguns dos aspectos descritos, e apenas em parte do tempo. Poucos conseguem esse tipo de saúde emocional em muitos desses aspectos e a maior parte do tempo - talvez 5 ou 10% de nós.

Quem tem saúde emocional?

Ter saúde emocional não tem nada a ver com o quanto se é inteligente, atraente, ambicioso ou rico. Na verdade, é possível que os grandes realizadores, de todos os grupos, sejam os menos propensos a serem emocionalmente saudáveis. Muitas pessoas emocionalmente saudáveis têm empregos mal remunerados e sem status e se focam mais em suas casas do que em suas vidas profissionais.

A maioria de nós nasce emocionalmente saudável. Um bebê sabe exatamente quem é. A maioria das crianças pequenas sabe como elas são e, quando se sentem seguras, são espontaneamente alegres. As brincadeiras das crianças pequenas servem de modelo para todos os adultos. É normalmente quando as crianças vão para a escola, em especial entre os 7 e os 9 anos, que os desafios à saúde emocional aparecem mais visivelmente.

Conforme surgem a pressão para se encaixar e a comparação com os outros, passa a ser cada vez mais comum não ser emocionalmente saudável. É apenas no final da meia-idade ou na idade avançada, depois de um longo período sendo largamente derrotada pelos desafios, que a saúde emocional começa a voltar - quando volta. Como disse Oscar Wilde: "Viver é a coisa mais rara do mundo. A maioria das pessoas apenas existe."

O que a saúde emocional não é

É importante lembrar que a saúde emocional não se define nem pelo humor nem pela sanidade. É algo diferente de saúde mental. Uma pessoa emocionalmente saudável pode ficar deprimida ou iludida, embora isso provavelmente seja raro.

A saúde emocional é definida pelos pontos positivos descritos anteriormente, ao passo que a saúde mental é amplamente definida de modo negativo, pela ausência de doenças mentais, como ansiedade, ou problemas mais extremos, como as variações de humor do transtorno bipolar. No entanto, é interessante notar que nas raras tentativas de se medir a saúde mental (em vez de a doença mental) positivamente, ela é considerada quase tão rara quanto a variedade emocional.

É muito anormal para um adulto em qualquer nação desenvolvida ter uma saúde emocional plena. Na verdade, é algo raro em todos os ambientes urbanizados e industrializados. Correndo o risco de invocar o idealizado Bom Selvagem, talvez seja a norma apenas em ambientes pré-industriais - cidades pequenas ou sociedades caçadoras-coletoras (nômades) sem agricultura estabelecida. Certamente não é a norma em nossa sociedade moderna.

A saúde emocional também não deve ser confundida com ideias como "satisfação de vida" ou "bem-estar" nem com felicidade. Esta última normalmente é um estado fugaz, a sensação de prazer que se tem com sexo ou com um cigarro, ou a satisfação de ficar sabendo a nota alta em uma prova. Cuidado com os autores que oferecem o dom da felicidade. Não passa de uma poção mágica psicológica. Na minha opinião, nós não fomos postos neste planeta para sermos felizes, mas é plausível supor que podemos ser mais saudáveis emocionalmente.

Natureza versus criação

Uma questão pode estar se formando em sua mente: por que você e seus irmãos, ou seus filhos, diferem em termos de saúde emocional. A resposta, um dos segredos mais bem guardados da ciência moderna, é que isso quase nada tem a ver com genética.

Em nações desenvolvidas, a saúde emocional está claramente ligada à nossa experiência de vida, e há quatro experiências principais que, individualmente ou de maneira combinada, levam à saúde emocional na vida adulta.

** A primeira é ser amado nos primeiros anos de vida e criado com sabedoria nos anos seguintes.

** A segunda é receber o tipo certo de assistência e apoio amorosos no começo das adversidades da infância, como a perda de um dos pais, para que a pessoa consiga converter a adversidade em ouro emocional.

** A terceira é ser impelido por um choque radical e severo na vida adulta a repensar a vida completamente, resultando em repentino reconhecimento do próprio dom da vida.

** A última causa é uma profunda experiência espiritual ou terapêutica.

Se você não teve essas experiências, não se desespere. De modo algum tenho a intenção de que, simplesmente por ler este livro, você ascenda a um estado permanente e transcendente de saúde emocional - na verdade, como já foi dito, pessoas de fato saudáveis emocionalmente são muito raras. No entanto, com o tipo certo de conhecimento, todo mundo pode se tornar emocionalmente mais saudável.

Neste livro, resumi os elementos-chave da saúde emocional em cinco tópicos:

1. Percepção: a capacidade de compreender, olhando para o passado, por que você pode pensar, sentir e agir de determinada maneira.

2. Vivendo no presente: a capacidade de ter forte noção do self, de possuir a própria identidade e viver no presente, em vez de viver "como se" você fosse você, interpretando um papel.

3. Relacionamentos fluidos, de mão dupla: a capacidade de interagir livre e confortavelmente, com bom senso de tato e de modo assertivo, nem dominante, nem passivo.

4. Autenticidade: a capacidade de viver segundo valores com que você se identifica e nos quais acredita, em vez de valores que você aceita sem pensar, por padrão, frequentemente se manifestando em suas atitudes em relação ao trabalho e à carreira.

5. Alegria e entusiasmo: a capacidade de viver a vida com ânimo e prazer.

 

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