A mensagem através da linguagem
 
Escolas que Aprendem, Peter Senge, 2005, Editora Artmed, pag 91
 

Adam é um aluno inteligente e sensível da sétima série. Um dia, sua professora o chamou em um canto e disse, "Adam, seu último trabalho está fabuloso. Acho que é o melhor da classe". Naquela tarde, ele surpreendeu seus pais, começando a fazer a lição de casa logo que chegou da escola e terminando-a cedo. Adorei a escola hoje", disse para os pais, "aprendi muito em todas as aulas e fiz todo meu trabalho sem ser auxiliado. A Sra. Jones gostou da minha composição. Eu nunca soube que a escola poderia ser tão divertida".

Infelizmente para Adam, a escola raramente é divertida. Pensa que é burro porque, durante sete anos, mais de um professor comunicou essa percepção por meio de suas interações com ele. Quando sua mãe falou à professora de composição sobre o efeito do seu cumprimento, ela disse: "Obrigada por me contar, sei que minha perso­alidade é bastante abrupta e, às vezes, estou ocupada demais para pensar sobre as coisas que digo. Estou procurando uma forma de atingir Adam. Fiquei orgulhosa com seu trabalho e vou procurar mais oportunidades para encorajá-lo".

Muitas vezes, quando as pessoas estão em uma posição de poder sobre as outras, o uso de uma linguagem depreciativa - uma linguagem que comunica que a outra pessoa tem defeitos ou é incompleta - pode ter um impacto muito mais duradouro do que elas entendem. Muitas crianças não conseguem ler bem as situações sociais, mas as mensagens negativas dos professores transparecem em alto e bom som e permanecem por anos, de forma muito mais vívida do que a lição que foi ensinada.

"Não tente cantar, querido ... apenas faça as palavras com a boca", uma professora fala durante um ensaio para uma apresentação, e aquela pessoa ficará em silêncio sempre que alguém se juntar para cantar. Ou: "Você sempre é escolhido por último, não é?", um treinador fala no campo, e ele nunca mais vai praticar esportes. O professor não pretende machucar a criança, provavelmente não tem consciência do sinal que enviou, da maneira como invalidou a criança, mas essas experiências fazem um estrago.

Os professores também enviam sinais não-verbais ­ por exemplo, na forma como avaliam a lição de casa. Marcar um trabalho com um "X" vermelho envia uma mensagem de julgamento e culpa. Entregar os trabalhos na ordem da melhor nota para a pior, ou pedir que os alunos avaliem os trabalhes uns dos outros, é uma mensagem arrasadora, que diz que o desempenho fraco é de conhecimento público. (...)

As mensagens positivas também permanecem. Um dos autores deste livro já ouviu de um diretor-adjunto de uma escola que "você pode ser tudo o que desejar". Essa mensagem é continuamente lembrada e usada em tempos difíceis. Uma história semelhante apareceu na coluna da associação alguns anos atrás. Um jovem, que não era um aluno particularmente bom, recebeu de volta uma composição onde estava escrito: "Isso é boa literatura".

Essa declaração mudou sua vida. Ele sempre havia gostado de escrever, mas nunca pensou que era bom. A afirmação foi importante, não porque construiu sua auto-estima, mas porque, de repente, viu que era verdade, havia produzido boa literatura. Atualmente, é escritor profissional. Pessoas que ocupam posições de autoridade - professores, pais, diretores, chefes, colegas - não têm consciência de como a linguagem que usam afeta a maneira como pensam e a forma como os outros interpretam suas mensagens. (...)

Como, então, podemos usar uma linguagem para apoiar a aprendizagem da criança em vez de interferir nela? Qualquer um que esteja em uma posição de poder ou liderança fará bem se utilizar a regra sagrada da prática médica: Antes de tudo, não faça mal. A diretriz de Haim Ginott para a comunicação eficaz - entre o pai e o filho ou entre o professor e o estudante - é falar para a situação, e não para o caráter ou personalidade.

Nesta, há exemplos de afirmações impensadas que enviam um sinal de que "há algo de errado com você" - e alternativas que abrem a porta para uma aprendizagem mais frutífera. O princípio subjacente para cada alternativa: em vez de descrever o estudante, descreva uma observação sobre o estudante. Deixe que ele se tome seu parceiro em descobrir o que fazer a seguir.

[Texto: Enviando Sinais - Relevando as mensagens da linguagem que usamos com as crianças. Janis Dutton, Nelda Cambron-McCabe, Tim Lucas, Art Kleiner]

 

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