Assumir o controle da própria vida exige disciplina. Sim, toneladas dela. Mas a disciplina não é prontamente alcançada nem facilmente mantida. Ela requer força mental para superar hábitos nocivos e paixões infrutíferas. Ela necessita de firmeza para resistir aos apelos tentadores de assuntos secundários e sem importância. Sobretudo, ela exige uma implacável concentração naquilo que é realmente fundamental.
Joe Paterno é indiscutivelmente um dos mais talentosos treinadores no mundo dos esportes. A disciplina que exige de suas equipes dentro e fora dos estádios é bem conhecida. Talvez menos conhecida seja a disciplina que ele exige de si mesmo, como é revelado no livro The Man Who Said No to $1 Million (O homem que disse não a um milhão de dólares). Enquanto estiver lendo, procure descobrir quais são os valores e sonhos que fariam você recusar uma oferta tão tentadora. Avalie se suas ações diárias refletem a disciplina necessária para manter-se fiel a seus ideais.
O HOMEM QUE DISSE NÃO A UM MILHÃO DE DÓLARES
por Joe Paterno com Bernard Asbell
Lembro-me do dia em que fui forçado a decidir quem sou. Eu tinha ficado acordado a noite inteira pelejando com meu passado, tentando encontrar um sentido para o meu futuro. Foi em dezembro de 1972. Eu era o treinador da equipe de futebol americano da Universidade Estadual da Pensilvânia havia quase sete anos e me considerava satisfeito.
Então recebi um telefonema inesperado - uma oferta que me deixaria rico se eu deixasse a universidade que amava. O homem no telefone era Bill Sullivan, ex-presidente e principal dono do New England Patriots.
- Quero me encontrar com você para convidá-lo a vir treinar a minha equipe - ele disse.
Respondi que tinha recebido outras ofertas e que não estava muito interessado nas propostas. Foi então que ele me impactou com sua proposta -1,3 milhão de dólares, mais co-propriedade da franquia e um bónus de 100 mil dólares na assinatura do contrato.
Na Penn State, meu salário anual chegava a 35 mil dólares. O dinheiro sempre fora suficiente para sustentar minha família com conforto - mas a proposta de Sullivan me abalou. Por fim, anunciei à minha esposa:
- Preciso aceitar a oferta.
- Joe, o que você decidir estará bom para mim - Sue respondeu.
Telefonei para Sullivan e aceitei. Quando Sue e eu fomos para a cama aquela noite, eu disse:
- Bem, querida, esta noite você vai dormir com um milionário. Acordei às duas da manhã e vi Sue sentada em sua cadeira de balanço amamentando nosso bebê. Ela não percebeu que eu estava acordado. Em nenhum momento dissera que não queria ir para Boston. Mas, agora, lágrimas desciam por seu rosto.
Permaneci deitado, pensando na vida que estaria deixando para trás. Vi a escola onde conheci minha esposa, a única casa em que morava com nossos cinco filhos. Vi os alunos, a estátua de granito da nossa mascote -o Nittany Lion - e meus queridos e esforçados jogadores de futebol.
O que me tinha feito aceitar a proposta de Sullivan? Sim, Boston era uma ótima cidade. Aquele era um novo desafio. Porém, o que tinha mesmo me atraído... era o dinheiro.
De repente, eu soube o que precisava fazer, o que queria fazer. Na manhã seguinte, assim que nos levantamos, eu disse a Sue:
- Você foi para a cama com um milionário, mas acordou comigo. Decidi não ir.
Ela sorriu silenciosa e mais tarde me contou que exclamou internamente: "Graças a Deus!"
A revelação que tive durante aquela noite foi que o futebol profissional jamais poderia significar para mim o que o futebol universitário significava. É claro que adoro vencer jogos, mas sei que há algo que conta mais do que a vitória ou a derrota. Eu vejo meus jogadores crescerem - em sua disciplina pessoal, em seu desenvolvimento educacional e como seres humanos. É uma recompensa cuja profundidade eu nunca encontraria no esporte profissional.
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Muita coisa aconteceu desde daquela escolha de 1972. Muitos jogadores chegaram e partiram, muitos campeonatos foram vencidos... e perdidos. E, sem dúvida, os salários dos treinadores das universidades subiram muito. Porém, durante todo esse tempo, Joe Paterno permaneceu firme no leme dos Nittany Lions da Universidade da Pensilvânia, fazendo aquilo que mais ama - ajudar os jogadores a alcançar sucesso no jogo da vida.
Ano após ano, seus jogadores apresentam uma das mais altas taxas de desempenho nos estudos entre atletas universitários. E, embora diversos alunos de Joe tenham ido para equipes de futebol profissional, um número muito maior alcançou sucesso em cargos executivos, em carreiras ligadas à educação e no serviço público. Eles atribuem a Joe e às lições de vida que ele lhes ensinou um bom crédito por suas realizações.
Tudo isso é conseqüência de um extraordinário investimento em disciplina para atingir um objetivo.
Joe e Sue foram um exemplo vivo no silêncio daquela noite enluarada e em suas rotinas diárias nos anos seguintes. É muito mais fácil dizer NÃO a apelos tentadores ou a escolhas menos significativas quando temos um SIM intenso brilhando dentro de nós.
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