Em busca de sentido na vida
 
Viktor Frankl em 50 clássicos de auto-ajuda, Tom Butler-Bowdon, 2006, Editora Sextante, pag 203
 

A esposa, o pai, a mãe e o irmão de Viktor Frankl morreram nos campos de concentração da Alemanha nazista. Só sua irmã sobreviveu. Suportando fome, frio e brutalidades extremas, primeiro em Auschwitz e depois em Dachau, o próprio Frankl esteve sob constante ameaça de ser enviado para a câmara de gás. Em seu primeiro dia como prisioneiro, perdeu todos os seus pertences, inclusive um manuscrito científico que considerava a obra de sua vida.

Esa história poderia levar qualquer um a acreditar que a vida não tem sentido e que o suicídio é uma opção razoável. Mas, apesar de ter sido jogado no fundo do poço da humanidade, Frankl emergiu como um otimista. Seu raciocínio era simples: ele acreditava que, mesmo sob as mais terríveis condições, as pessoas têm liberdade para escolher como encarar as circunstâncias e delas extrar algum sentido. (...)

As partes mais pungentes de Em busca de sentido (obra dele de 1959) são as lembranças dos pensamentos de Frankl que lhe davam vontade de viver. A imagem da esposa, por exemplo, era sua única luz nos dias sombrios dos campos de concentração. (...)

Profeticamente, ele se imagina, depois da libertação, fazendo conferências sobre coisas que nunca deveriam voltar a acontecer. E havia também o desejo permanente de rabiscar notas com as lembranças de seu manuscrito perdido. Mas havia os que preferiam fumar seus últimos cigarros em vez de trocá-los por restos de comida - esses haviam decidido que a vida não tinha mais dada a lhes dar.

Para Frankl, esse modo de pensar é um terrível equívoco. (...)

Enquanto a psicanálise freudiana requer introspecção e autocrítica para revelar a base da neurose de uma pessoa ("desejo de prazer") e Adler prega a terapia individual ("desejo de poder"), a logoterapia tenta criar um distanciamento para que pessoa veja sua vida de uma perspectiva mais ampla. O "DESEJO DE SIGNIFICADO" é a força motivadora primordial do ser humano.

Frankl recorda a visita ao seu consultório, em Viena, de um diplomata norte-americano que passara cinco anos fazendo psicanálise. Vinha com um diagnóstico de que a insatisfação com o próprio emprego estava relacionada ao seu pai biológico. O governo dos Estados Unidos representaria seu pai e por isso era o objeto superficial de sua aflição, ao passo que o verdadeiro problema eram seus sentimentos para com seu pai.

Frankl, porém, diagnosticou falta de propósito no trabalho e sugeriu uma mudança de carreira. O diplomata seguiu seu conselho e nunca mais olhou para trás.

O fundamental nessa história é que a logoterapia encara a angústia existencial não como neurose ou doença mental, mas como um sinal de que estamos nos tornando mais humanos no desejo de significado. Em contrataste com Freud e Adler, Frankl não via a vida como uma busca de satisfação dos impulsos e instintos, tampouco como um processo de "ajustamento" à sociedade. Para ele, o aspecto mais extraordinário do ser humano é o livre-arbítrio.

FONTES DE SENTIDO

A logoterapia diz que a saúde mental emerge quando aprendemos a cobrir a lacuna entre o que somos e o que podemos via a ser. Mas e se ainda não identificamos o que podemos via a ser?

Frankl observa que o indivíduo moderno tem de lidar com uma liberdade quase excessiva. Não vivemos de acordo com nossos instintos, tampouco a tradição nos serve de guia. Nesse vácuo existencial, a busca de sentido frustrada é compensada pela necessidade de dinheiro, de sexo, de diversão e até de violência.

Não estamos abertos às várias FONTES DE SENTIDO, que, segundo o autor, são:

(1) Criar um trabalho ou realizar uma façanha
(2) Experimentar algo ou encontrar alguém (amor)
(3) Atitude que assumimos para evitar o sofrimentos


A primeira é uma fonte clássica, definida como "propósito de vida" em boa parte da literatura de auto-ajuda. Nossa cultura aspira à felicidade, mas Frankl diz que isso não é algo que devemos buscar diretamente. Ele define a felicidade como um subproduto da absorção do indivíduo em uma tarefa que demanda toda a sua imaginação e todo o seu talento.

A importância da segunda fonte é tornar a experiência (interior e exterior) uma alternativa legítima numa sociedade construída sobre a idéia de realização.

A terceira dá ao sofrimento um sentido - mas que sentido? Frankl admite que talvez nunca saibamos a resposta, pelo menos não até que seja tarde. O fato de que não compreendemos o sentido não significa que ele não existe.

Às pessoas que dizem que a vida não tem sentido por ser transitória Frankl responde: "É a não realização do potencial que carece de sentido, não a vida em si mesma." Nossa cultura venera a juventude, quando é a maturidade que deveríamos admirar, pelo tanto que a pessoa mais velha já amou, sofreu e realizou.

A realização de nosso potencial, por mais humilde que seja, deixará uma marca permanente na história do mundo e é a decisão de deixar essa marca que define a responsabilidade. A liberdade é apenas a metade da equação. A outroa meta é a responsabilidade de agir com base nela.

 

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