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Os opostos se atraem - introvertidos e extrovertidos

O poder dos quietos para jovens, Susan Cain, Sextante, 2016
 
Dia 5 de março de 1975. Era uma noite fria e chuvosa na cidade de Menlo Park, na Califórnia. Trinta engenheiros se reuniram numa garagem. Eles se autodenominavam Homebrew Computer Club e aquela era sua primeira reunião. Sua missão: tornar os computadores acessíveis a pessoas comuns. (Essa era uma grande tarefa, numa época em que quase todos os computadores eram máquinas lentas, do tamanho de caminhonetes, que só universidades e empresas podiam bancar.)

Estava frio, mas, apesar do ar úmido da noite, os engenheiros deixaram as portas abertas, para que as pessoas pudessem entrar. E entrou um jovem inseguro de 24 anos, que projetava calculadoras para a Hewlett-Packard. Tinha o cabelo na altura dos ombros, usava óculos e tinha barba castanha. Apesar de contente por estar na companhia de alguns de seus pares, não falou com ninguém naquela garagem - era tímido demais para isso. Pegou uma cadeira e escutou em silêncio, enquanto os outros se deslumbravam com um novo computador do tipo monte-você-rn sm chamado Altair 8800, que tinha figurado numa capa recente da revista Popular Electronics. O Altair não era um computador pessoal de verdade - era difícil de usar e só atraía aquele tipo de pessoa que entra numa garagem numa noite chuvosa de quarta-feira para falar de microchips. Mas era um primeiro passo importante.

O rapaz - Steve Wozniak (ou Woz, como é chamado pelos amigos) - ficou encantado ao tomar conhecimento do Altair. Era obcecado por eletrônica desde os 3 anos. Aos 11, havia encontrado um artigo de revista sobre o primeiro computador, o ENIAC, ou Electronic Numerical Integrator and Computer, e desde então seu sonho era construir uma máquina pequena e fácil de usar que pudesse ser mantida em casa.

Naquela noite, Wozniak foi para casa e desenhou seu primeiro esboço de um computador pessoal, com teclado e tela iguaizinhos aos que usamos hoje em dia. Começava a parecer que O Sonho (ele pensava assim, com letras maiúsculas) poderia um dia se tornar realidade. Três meses depois, construiu um protótipo dessa máquina. E, 10 meses mais tarde, ele e Steve Jobs fundaram a Apple Computer.

Tenho certeza de que você conhece a Apple como a empresa que criou o iPhone, o iPad, o Macbook e muitos outros produtos. O falecido Steve Jobs era uma figura muito eloquente do Vale do Silício, na Califórnia, e acabou se tornando a imagem da empresa. Além de sua genialidade como programador, ele era conhecido por seu tino comercial aguçadíssimo e por suas apresentações carismáticas. Mas a Apple começou com uma parceria entre Jobs e Woz. Foi Woz quem - em silêncio, nos bastidores - efetivamente inventou o primeiro computador da Apple. Juntos, esses dois tipos de personalidade profundamente diferentes - um introvertido, outro extrovertido - moldaram a marca.

Ao lermos a descrição de Wozniak sobre seu processo de criação daquele primeiro computador pessoal, o que mais impressiona é que ele estava sempre sozinho. Fez a maior parte do trabalho dentro de sua baia na Hewlett-Packard. Chegava por volta das 6h30 e, sozinho nas primeiras horas da manhã, lia revistas de engenharia, estudava manuais de circuitos integrados e preparava projetos mentalmente. Depois do trabalho, ia para casa, fazia uma refeição rápida e voltava para o escritório, onde trabalhava até de madrugada. Para ele, esse período de noites silenciosas e amanheceres solitários foi uma fase incrível e vigorosa. Seus esforços foram recompensados na noite de 29 de junho de 1975, por volta das 22h, quando terminou de montar um protótipo de sua máquina. Apertou algumas teclas e apareceram letras na tela à sua frente. Foi o tipo de momento de descoberta com que a maioria de nós só pode sonhar. E Wozniak estava sozinho quando isso aconteceu.

Em momentos como esse, muita gente gostaria de comemorar com os amigos, mas Woz preferiu a solidão. Sua invenção mudou o mundo tecnológico e, pelo fato de ele ter feito sociedade com um extrovertido que quis criar uma empresa baseada em sua brilhante invenção, esta chegou ao conhecimento do público. Não haveria Apple sem Steve Jobs, como todos sabemos - mas também não haveria Apple sem Steve Wozniak.


 

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